mainieri's

segunda-feira, outubro 30, 2006

Impuro poema






Poesia trafega
na contramão
do estabelecido.

Por vezes singra
em versamorosidades.

Noutras encontra
(o)dores & secreções.

Suja ou casta
iconoclasta
poesia nutre-se da vida.


Ricardo Mainieri

quinta-feira, outubro 26, 2006

Violão






Jovem
abraçava o violão
sonhando
sinuosa mulher.

Carente
de cifras & notas
dedilhava noites
em solidão.

Amadureceu.

O instrumento
seu complemento
jazz num canto
emudecido
do quarto.

A saudade
do que poderia
ter sido
dói sem solução...

Ricardo Mainieri


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Inspirado na crônica Tenderly, de Rosa Pena
Clique aqui

segunda-feira, outubro 23, 2006

Modernidades


Neste mundo moderno,
absurdo,
a secretária eletrônica
fugiu
com meu criado-mudo.

Sérgio Antunes
São Paulo/SP in: Relógio da Sala
cedido por Walmor Colmenaro, Revista Poetizando clique aqui

domingo, outubro 22, 2006

Geometria da chuva




Verticalmente
pingos se projetam
do céu.

Geometria de formas
em depressão.

Contornos da cidade
se perdem
o cinza impera
nas ruas & coração.

Ferrugem do tempo
estagnação.

Ricardo Maineiri

sexta-feira, outubro 13, 2006

domingo





















domingo
a missa
o vinho
a hóstia
a massa

domingo
a mesa
posta

domingo
sangue & corpo
frango & fritas
trago & intriga

domingomisso
domingobeso
domingostra
cismo

semana vai
semana vem:

domingoooool
domingo ao sugo
domingo amém


valéria tarelho


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Outra vez trago a poetamiga Valéria Tarelho.
Mais poesias da moça vcs. encontram no blog :
blog Textura clique aqui

terça-feira, outubro 10, 2006

Em busca do silêncio perdido


Aristides deixara a cidade em busca de repouso. Trabalhara o ano inteiro, em meio ao tumulto do centro urbano com suas buzinas, ambulantes, pedintes e assemelhados a lhe extorquir sempre alguma atenção. Volta e meia, compressores e marteletes rompiam o asfalto no lançamento de novas redes de água e telefonia. O barulho era ensurdecedor.

Benditas férias, pensava. Agora, poderia se dedicar a contemplar o mar, o céu sem nuvens, as beldades que circulavam em biquínis sumários, sem maiores preocupações.

Neste momento, observava as montanhas ao longe e logo ali a praia e os edifícios perfilados. Estava em Balneário Camboriú, onde a natureza havia sido pródiga em paisagens. Defronte, uma ilha paradisíaca, logo adiante um teleférico de onde se vislumbrava a cidade e muitas mulheres lindas espalhadas pela areia.

Sentiu sede. Foi até o quiosque e pediu uma caipirinha de vodka. Com bastante gelo, enfatizou. Um grupo de jovens havia estacionado seu carro nas proximidades e aberto o porta-malas, de onde se sobressaiam pesados alto-falantes.

Sem maiores rodeios, o cd-player foi ligado e Zeca Pagodinho começou a animar a praia em volumosos decibéis. Aristides odiava pagode e, contrariado, ouvia tudo aquilo. Logo se formou um grupo e a dança teve inicio. Corpos rodopiando, munidos de copos de cerveja e muita energia , a festa prometia ser animada. Passaram-se minutos, eternos para Aristides, novos Cds foram sendo colocados e ele, para não se incomodar, bateu em retirada.

Deslocou-se para um local mais distante. Estendeu sua esteira e fechou os olhos. Enfim paz, em meio ao vaivém suave das ondas, ao canto distante dos pássaros. Entretido estava em suas reflexões, quando escutou palavras em um idioma estrangeiro. Abriu seus olhos, lentamente, e vislumbrou um grupo de cerca de três famílias argentinas completas. Vinham todos: la abuelita, los niños y niñas, los señores y señoras.

De imediato, a balbúrdia se instalou. Crianças corriam e tropeçavam em sua esteira, homens bebiam uísque previamente trazido em uma caixa de isopor, mulheres tagarelavam sem parar.

Logo, estavam todos bêbados e cantavam tangos e boleros, num coro desafinado e irritante. Aristides pensou em gritar, chamá-los de “hijos de la puta”. Porém, vendo o estado alterado da turma e a desvantagem numérica, pegou seus pertences e clamou por um táxi, sentindo seu corpo arder pela prolongada exposição solar.

Um carro reduziu a marcha e parou. Ele, rapidamente, assumiu o banco traseiro. Disse ao motorista :
- Por favor, Hotel Central.
- O senhor já vai tão cedo da praia?
- Não agüento mais os argentinos. São barulhentos e inconvenientes.
- Meu senhor, eles são a fonte de sustento de Balneário Camboriú.
- Hijos de la puta, isso é o que são.

O condutor resolveu ficar calado. O passageiro sempre tinha razão...
- Chegamos, meu senhor

Pagou ao taxista e, quase correndo, dirigiu-se ao quarto. Enfiou-se no banho, esperando se redimir de toda aquela algazarra, enquanto a água tépida percorria seu corpo. Tinha decidido: iria voltar à cidade, não agüentava mais tanto barulho. Pegaria sua mala, pagaria a conta do Hotel e iria, imediatamente, à rodoviária.

Saiu do banho, enrolado em uma toalha. Deitou-se na cama. Logo, o sono veio lhe fazer companhia. Amanhã, faria isso. Adormeceu, nu e feliz. Finalmente o silêncio se instalara. Ao longe, podia-se notar o ruído de marteletes e compressores rompendo o asfalto. Vou virar de lado, pensou, acredito que seja, apenas, um sonho...


Ricardo Mainieri

quarta-feira, outubro 04, 2006

Metereológico

















Limpar as marcas
da ferrugem do tempo
sinais anunciando
os anticiclones da solidão.

Condições atmosféricas
contra-indicadas
ao usufruto do amor.

Inquietação circula
no relevo
de colinas & seios
seda
no orvalho da manhã.

Emoções encobertas
& chuvas esparsas
nos quadrantes inexatos
deste meu coração.


Ricardo Mainieri


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foto gentilmente enviada pela querida amiga Rosângela Aliberti
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terça-feira, outubro 03, 2006

Possibilidade







A ponte entre o desejo
e o encontro
é a lembrança...

Ricardo Mainieri