mainieri's

terça-feira, outubro 23, 2012

Meus mortos




Carrego meus mortos
na memória
um fardo
de tristeza & ternura.

Discretas sensações
ecoam silentes
vozes distantes
destoantes da luz lá fora.

A dor pulsa mais densa
uma nuvem espreita
a mente balança
no entanto resisto.

Sigo na tarde
travestido de forte.

Uma lágrima escoa
por dentro...


Ricardo Mainieri

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clip-art do deus grego Hades

terça-feira, outubro 16, 2012

Poiesis






O tecido da poesia
tem a tessitura
da sensibilidade.

Tênue fio
onde se esboçam
os sonhos & os sentimentos.


Veste multicor
dos humores doce-amargos
da alma humana.


Ricardo Mainieri

segunda-feira, outubro 15, 2012

A invenção da roda


Uma crônica do poeta, publicitário e ex-diretor do IEL-RS, Ricardo Silvestrin, falando dos anos heróicos da poesia aqui em Porto Alegre.

·                            

           Então resolvemos criar o PAPO, o Partido dos Poetas. Isso foi lá por oitenta e poucos. Era ano de eleição. Chamamos vários poetas para uma reunião. Decidimos que o PAPO iria ser lançado na Feira do Livro de Porto Alegre. O lançamento seria uma série de aviõezinhos de papel com poemas impressos, lançados ao ar num recital. O recital, por sugestão do Mario Pirata, teve uma forma de roda. Ele trouxe também uma canção do poeta Oliveira Silveira: "poesia na roda, eh / quem chegou é bem chegado / umbigada em você / para dar o seu recado".

           Depois desse dia, durante uns quatro anos seguidos, eu, Mario, Alexandre Brito, João Angelo Salvadori, Ricardo Portugal, Pablo Melo, Caio Gomes, Pedro Marodin, Brizola, Ricardo Mainieri e tantos outros, afinal, quem chegasse era bem chegado, fizemos a Roda de Poesia, das onze da manhã até a uma da tarde, todo domingo, no Brique da Redenção. A gente só parava porque cansava, pois as pessoas continuavam ali, embaixo do sol, ouvindo poesia. No meio da roda, um dos bordões do PAPO: "não precisamos de verbas / pois já temos os verbos".

           Acabei de ler o livro Belvedere, do poeta carioca Chacal. Reúne toda a sua produção poética numa bonita edição da CosacNaify. Chacal tem muito a ver com o espírito disso tudo que coloquei acima. Seu primeiro livro é de 1971. Editou em mimeógrafo. Vendeu e distribuiu na entrada de cinemas e teatros. A sua gíria de poeta chamou a atenção de Waly Salomão, Hélio Oiticica e Torquato Neto. Uma nova linguagem para uma nova visão de mundo. Um poeta da contracultura, do rock, com referências de Stones, Hendrix, Caetano, mas também de Manuel Bandeira, de Oswald de Andrade. O segundo livro dele se chamou O Preço da Passagem. Tinha esse nome porque queria juntar uma grana para viajar até Londres. Conseguiu.

           As edições dessa geração, comercializadas em bares e nos eventos culturais, chegavam a quatro mil livros vendidos. Em Londres, Chacal viu e ouviu a poesia falada de Allen Ginsberg, o poeta beatnik. Na volta, fundou com amigos o grupo Nuvem Cigana, que soltou o verbo em diversos recitais pelo Rio de Janeiro. 

 

          Numa recente entrevista e mesmo num dos poemas do livro, o poeta disse que sempre lhe interessou mais a poesia no corpo do que no livro. O corpo como suporte para o texto. Ou seja, o poeta falando seu poema para os outros, sendo ele o próprio veículo. Semelhante ao músico, ao vocalista, à banda de rock. O cara chega e faz o show. O CD ou o livro servem para registrar a produção. Mas não se bastam sozinhos. Encontrei o Chacal na última Feira, aqui em Porto Alegre. Ele disse que está achando legal ver a sua poesia toda num livro que pára em pé. Está percorrendo o Brasil e fazendo vários lançamentos. Também está falando com livreiros para ensinar a eles o que dizer na hora da venda. Informa que faz parte de uma geração chamada de poesia marginal e o que isso significa. Fala também com os professores para orientá-los da mesma forma. Agora, Chacal que botar a poesia também numa outra roda. Tomara que consiga.

 

Ricardo Silvestrin

terça-feira, outubro 09, 2012

Divisão




 Exilei a normalidade

em crepúsculos
distantes.

Dividi dias
dissonantes
em compassos
sem harmonia.

Estacionei
minha segurança
em algum bar desta cidade.

Não desanimei.

Abri os braços
saudando a primavera.

Que murmurava
flores & luz
impregnando os caminhos.

   Ricardo Mainieri


quinta-feira, outubro 04, 2012

Blue Janis




Hoje, 04 de outubro, falecia a cantora americana Janis Joplin.




Este poema é uma homenagem a ela.




BLUE JANIS



Janis

musa muy loca

dos anos sessenta.




Voz

riscando a paisagem

dos cinco sentidos.

blue-notes

no azul desta emoção.




Summertime

o coração ainda acena

na estrada

marcando teus passos

o corpo se retorce

e repele as sombras

que residem no quarto.




E flutuas

sussurros de fêmea

no hímen das cordas vocais

sangrando blues

numa tapeçaria de sons

tecidos em meu peito.


Ricardo Mainieri



terça-feira, outubro 02, 2012

XX Congresso de Poesia - Bento Gonçalves - RS - 2012


 
Uma foto de minha participação no XX Congresso  Brasileiro de Poesia, realizado em Bento Gonçalves, entre 24/09 e 28/09.