O mundo de Chet Baker
Chet Baker era um homenino, como diria Caetano.
Habitava o mundo da sensibilidade e da doçura quando tocava seu trumpete.
Encantava, quando cantava seus standards, dando seu toque personalíssimo.
Mas, o homem assumia o comando e saía à busca de drogas pesadas, numa viagem sem tréguas.
Este mundo acabou-se num hotel de Amsterdã. Em sua queda, o solo, friamente, não o recebeu com aplausos...
Ricardo Mainieri
Tragicidade
apocalipse now
terremotos & tsunamis
replay de erros humanos...
Ricardo Mainieri
Panorama visto do ônibus
O veículo
vagarosamente
vasculha a cidade.
Vai a busca de bares extintos
ruas sem praças
sinais e buzinas
na contramão.
Na manhã
que insiste cinzenta
percorro velhos roteiros
labirintos dentro de mim.
Ricardo Mainieri
Este poema esteve circulando nos ônibus de Porto Alegre, no ano de 2004, graças ao Concurso Poemas nos Ônibus, da PMPA.
Labirinto-me
Encontro-me e desencontro-me
numa (des)construção diária
labirintos dentro de mim...
Ricardo Mainieri
Antônio Carlos,
mundo inteiro de alameda, Jobim
Tijuca, baiúca primeira
Alto e bom som, de floresta
Piano, flauta, passarinho, violão
Dias de Tom.
Via Lobos, cifras e charutos
Nevoentos, sagazes, dias-sonhos
Pixinguinha e a branca sem memória
Velho mestre, terno Radamés.
Acolá, aqui e Ari, Barroso
Por toda parte, amigo todo
De Antônio inzoneiro
Caro amigo, sempre, brasileiro
Clube da chave, embaixada dos orfeus
Uísques de Morais: esse era o tom
Muito antes de Jobim
Serafim, foi buscar balde de mote.
Desde que disse, Mário de Andrade:
"- Faça música brasileira!"
Daí em diante foi Pau, Pedra...
Fim do tacanho.
Renato Ribas
(10 anos sem Tom. 8, dezembro, 2004)
Signos
(homenagem ao Dia da Poesia 14/03)
A linguagem em desafio
palavras que desfio
fio a fio unindo sensações.
Ricardo Mainieri
Mercado Central de João Pessoa
são tristes
as folhas murchas
do repolho
que um homem faminto
não pode comer
Lau Siqueira
(originalmente publicado na Coletânea Prêmio Mário Quintana, 1985, IEL/Petrobrás, RS)blog do Lau Siqueira clique aqui
Couvert artístico
Notas transbordam do trumpete
o baixo
persegue a melodia
miscigenação
de teclas no piano.
Após o trabalho
entrego-me ao ócio
sorvendo a mais-valia
musical.
Ricardo Mainieri
OBS.: Este poema foi publicado no livro Estórias de Trabalho, Porto Alegre,PMPA, ano de 2003.
Feminino
(homenagem ao Dia Internacional da Mulher)
Você que escova idéias
fios soltos do sentimento
tem
o corpo fecundado
de mistérios
navegante intensa
de tensas marés
irregulares & sanguíneas.
Você que cicatriza estórias
beija
vencedores & vencidos
é trem grávido de paisagens
gerando
trilhas amanhecidas.
Você é mulher
procura & encontro
nesta partilha de bens
invisíveis & eternos.
Ricardo Mainieri
Soft
O sol
oculta suas pegadas :
anoitece.
Ricardo Mainieri
Erótico entardecer
Porção de aperitivo
na janela aberta.
Olhos gulosos
saboreiam
pernas & seios.
Impossível
frear a imaginação
a inevitável
colisão.
E a cortina se fecha...
Ricardo Mainieri
P.S - os dois versos iniciais são de Carlos Savasini
Retorno
Março exila o ócio
cidade em ritmo (a)normal
desfila neuróticos & integrados.
Ricardo Mainieri