mainieri's

sexta-feira, abril 28, 2006

Primeiro de Maio





O poeta não estará por aqui no Dia do Trabalho.Por isso a comemoração adiantada com esta bela letra de Chico Buarque em dueto musical com Milton Nascimento.Bons tempos!!!



Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas

Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é vendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhar do seu ventre
O homem de amanhã

Chico Buarque

quarta-feira, abril 19, 2006

Tribunalma



Severamente, o juiz o olhava.
Para evitar a colisão, desviou a vista.
Sentiu um calafrio percorrer a espinha e o suor desaguar, indiscretamente, na cueca.
Todo aquele paramento judiciário, a voz grave, o ambiente austero, o oprimia.
De imediato, o magistrado deu início ao interrogatório.

- Senhor Juliano, jura dizer a verdade, apenas a verdade?
- Juro, disse num balbucio.
- Onde estava o senhor, quando ocorreu o roubo das pedras preciosas?
- Em casa, senhor juiz.
- O senhor tem como provar isso?
- Apenas a minha palavra empenhada.
- Isto não é suficiente

Ficou ruborizado. As mãos tamborilavam , freneticamente, na cadeira.
Lembrou-se do personagem Pinóquio e de seu nariz. Naturalmente, de alguns políticos conhecidos...

- Senhor Juliano, disse o meretíssimo, temos na sala um detector de mentiras.
- Mas, eu não menti, senhor juiz.
- Veremos.

E o magistrado foi buscar a engenhoca, habilmente escondida em uma mesa ao seu lado. Colocou-a próxima a Juliano e disse:


- Observe, então, senhor Juliano...

Nisso, acordou do pesadelo. Respirou aliviado.
Precisava ver menos filmes de ação à noite, pois senão viveria em constante pavor.
Apalpou seu nariz. O tamanho permanecia normal.

Ricardo Mainieri

quinta-feira, abril 13, 2006

Louca lucidez (para Van Gogh)




Pinceladas insanas
lucidez
preservada.


Treme a luz
do crepúsculo
em golfadas.


A arte
sem artifícios
sobrevive ao artista...


Ricardo Mainieri

quarta-feira, abril 12, 2006

Imagem





Teu sorriso
hortelã na manhã
anuncia o sol...

inspirado em haicai de Rosângela Aliberti



Ricardo Mainieri

segunda-feira, abril 10, 2006

Sobre um quadro de Gustav Klimt






Ruivos cabelos
desejos em apelo
o corpo seminu.

Feições de sono
aparente prostração.

Prenúncio sublimado
entre fendas :
um vulcão.

Iminente erupção...

Ricardo Mainieri


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inspirado num e-mail da poetisa Solange Firmino

sexta-feira, abril 07, 2006

Couvert artístico







Notas transbordam do trumpete
o baixo
persegue a melodia
miscigenação
de teclas no piano.

Após o trabalho
entrego-me ao ócio
sorvendo a mais-valia
musical.

Ricardo Mainieri



Este poema foi publicado, originalmente, no livro Estórias de Trabalho, ano 2003, Porto Alegre, RS