mainieri's

sexta-feira, julho 26, 2013

Catarse




escrevo
sobre uma tela nua

de um branco anêmico
com sabor invernal

verto palavras
que pulsam & jorram

como orgasmo
como catarse mental

sou senhor & escravo
artesão & gourmet

ao texto concedo 
sabor & tempero

exclusivo ou trivial

o que mais importa
é que por linhas tortas

desvelo emoções.


Ricardo Mainieri

terça-feira, julho 23, 2013

A cold night



observo a lareira
sem lenha

a estufa extenuada
que acabou de morrer

lá fora o digital
indiferente aos indigentes
anuncia cinco graus


um arrepio me percorre
o assovio do vento escuto

retorno às cobertas
criança ao colo da mãe

cerro a janela e apago
a cena dos corpos 
ao relento

o amanhã 
em passos lentos
ainda vai chegar.


Ricardo Mainieri

sexta-feira, julho 19, 2013

Nas cordas da emoção



sons na manhã

apaziguam a alma


em lento andamento

a melodia escorre

das cordas do instrumento



banha-me de encanto

inunda-me de luz



é alimento

suprimento de paz



sensação que permanece

e pouco a pouco 

desvanece



quando eu ligo a tevê.

Ricardo Mainieri

segunda-feira, julho 15, 2013

Tempus fugit



era um tempo
ilimitado

latifúndio
de horas sem memória

foi nuvem
em minha vida

desfilou no céu
e passou

eu era

hoje 
apenas sou.


Ricardo Mainieri

Uma crônica do amigo Jorge Adelar Finatto

O homem que roubou o sol


Pintura Maria Machiavelli


Um homem de coração triste pode entristecer a vida de muita gente.
O sol está preso no sótão da casa do homem sem esperança.

Em uma manhã de infinita tristeza, ele ergueu os braços, apanhou o sol com as duas mãos, como se fosse uma laranja, e o levou para o trevoso lugar. Desde então, não mais o devolveu para a rua onde mora.
 
- Nunca, nunca mais vou soltar o sol -, disse a um grupo de meninos e meninas que foram até a frente de sua porta pedir a libertação do astro-rei.

- Ninguém mais vai ver a luz nem receber calor nessa rua.
 
À noite, os vizinhos observam a estranha claridade que escapa pela claraboia. Raios iridescentes giram entre si, perpassam o espaço e vão em direção ao vazio do universo.

Nenhum, no entanto, fica para iluminar aquele pequeno lugar mergulhado na sombra.
O homem triste tem uma pedra enorme, pesada e fria, no coração. Uma lápide com uma inscrição feita numa estranha, obscura língua que ninguém entende. Ele não consegue mais falar nem sentir.

O roubo do sol foi um ato de desespero, de revolta com coisas más que aconteceram na sua vida. Ao agir dessa maneira, privou a rua e seus habitantes de luz, alegria e esperança.
 
É preciso trazer urgentemente de volta o homem triste para o convívio da rua, antes que tudo em volta dele congele, antes que os corações sequem, antes que desapareça a vida daquele lugar.

Jorge Adelar Finatto
 

Lua crescente



Sob um céu fértil
o contorno da lua
lembra uma foice

simbolo que singra o espaço
e colhe espigas de luz.


Ricardo Mainieri

terça-feira, julho 09, 2013

Beatificação




Santa Rita Lee, mãe de todos os bauras & baganas.
Protetora dos ripongas, dos undergrounds, dos desobedientes.
Dos malucos de todos os tempos. 
Divida com nós sua voz quente, sua sensualidade, sua loucura.
Livrai-nos de todo o mal e da Polícia Federal.

Amém.


Ricardo Mainieri

sexta-feira, julho 05, 2013

Sociedade de classes



(quadro de Tarsila do Amaral: "Operários")


o que para mim é árduo
quase hard

é balsamo que
para poucos arde

como lume ou chama

inesgotável.


Ricardo Mainieri

quinta-feira, julho 04, 2013

Acidente



um sorriso
atravessou
na contramão

não pude deter-me

agora estou
com vinte e um pontos
marcados na carteira

& no coração.



Ricardo Mainieri