mainieri's

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Ceticismo



Queria falar
de um ano novo.

Já que o apocalipse
não zerou a vida na terra.

E nenhum portal de luz
se fez visível
no limiar do horizonte.

O mundo segue seu curso.

Velho discurso reciclado
pois vislumbro mortos em Gaza.

Plugado em todas as mídias
assisto guerras desnudando
falsas primaveras.

Tudo é calor
catástrofes
retrospectivas na tevê.

E os homens seguem sem rumo.

Mergulhados no consumo
como bêbados 
numa alegria inconsistente.

Por hora
não hospedo esperanças.

Quem sabe o verão
e os novos dias que virão
me deixem ver outros mundos.


Ricardo Mainieri

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Pequeno perfil de um burocrata


Tarde atarefada
véspera de tudo.

Ar condicionado
em condições contrárias
e o calor fere feroz.

Sapato novo aperta
sirene aberta
teima em molestar.

Queria jogar relatórios
para o alto
tomar de assalto
a ante-sala do diretor.

Que fazer se o tempo urge
e nada surge para acalmar.

Bebe água
e não tem a sede saciada.

Sede de ser outro
viver nova personagem
num mundo menos desigual.

A tarde se vai
a noite cai
e ele ainda sentado na cadeira.

Imóvel
feito um velho patrimônio
seu corpo jaz sem vida.

Missão cumprida.


Ricardo Mainieri

terça-feira, dezembro 18, 2012

Em processo





 

os meandros da mente
são intangíveis
inatingíveis
aos não-iniciados

como infinitos abismos
ceus de feéricas luzes

pulsam intensos
feito fótons na noite

como fósseis
em tempos primevos

que sabe eu desperte
desta lucidez insana

quem sabe
eu obtenha a resposta.


Ricardo Mainieri

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Aos predadores da poesia







A ótica divergente
 brisa bem-vinda
quando sopra constante
e tem firme textura.

A generalização
 poder de ciclone
que não lança sementes.

É somente 
prenúncio do caos
devastação insana
no jardim das vaidades.

Como o bambu
após a tempestade
curvo-me & renasço.

Respondo em versos
aos que me apedrejam.

Junto as pedras arremessadas
e com elas construo
nova morada.

Onde possa a poesia
nua andar
e seja sempre dia
sepultando a escuridão.


 Ricardo Mainieri
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Gracias,  Lau Siqueira pela inspiração 
do título!


sexta-feira, dezembro 14, 2012

Papo cabeça



entre o apolíneo
e o dionisíaco
o celestial
e o umbralino

eu fico
de fora.

isto é tarefa
para o Superman
ou o super-homem de Nietzsche.


Ricardo Mainieri

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Torneio verbal


elipse
silêncio que fala
outra linguagem.


pois a palavra tem
parêntesis
reticências.

e preciso penetrar em
suas reentrâncias
imprecisas.

e fundar uma tese de
gozo ou de dor.

Ricardo Mainieri

terça-feira, dezembro 11, 2012

After dark





Após a tempestade

a cidade reorganiza-se.


Sinaleiras são consertadas

luzes restabelecidas

destroços recolhidos.


Em toda parte

paira um cenário

de pós-guerra .


Só meu coração insiste

inquieto.


Alterna-se em batidas

descompassadas

numa estranha dança

premonitória.


Afasto os presságios

dou um basta

aos pensamentos nefastos.


Acesso minha melhor parte

e injeto luz em minha mente.


Embora a face da manhã

não me sorria  lá fora.


Ricardo Mainieri

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Limites






não me leve
lave-me

limpe-me
do limo
do limbo

dos limites
lúcidos

livre-me

lidimamente.


Ricardo Mainieri 

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foto pesquisada no blog : www.adilsoncosta.com