segunda-feira, setembro 28, 2009
sexta-feira, setembro 25, 2009
quarta-feira, setembro 23, 2009
Assim caminha a humanidade

Quando era mais jovem pensava que com palavras, ações pontuais e certo carisma poderia mover as intrincadas engrenagens do mundo.
Transcorriam os anos setenta e havia um projeto de luta no horizonte. Metaforicamente, poderia dizer que, ainda, batia-se às portas da Utopia e havia, sempre, alguém do outro lado...
Porém, os anos se seguiram e , cada vez mais, os sonhos foram sendo vencidos pela realidade mundana. Às vezes, usando o jargão esportivo, de goleada...
Em que pese o inegável avanço tecnológico que nos legou o computador pessoal, o telefone celular, a biotecnologia, o ser humano, infelizmente, deixou de perseguir certos objetivos menos tangíveis.
Enveredou pela luta do dia-a-dia, na busca de seu sustento material , num mundo globalizado e excludente. Cansado, após um dia de trabalho, desistiu de ser inquieto culturalmente, se entregando aos cuidados de uma televisão a cabo, de um cd player a executar a música da moda.
A consciência ecológica, o viés político foi delegado a poucos grupos como o Greenpeace e partidos do espectro socialista. O fator transcendente ficou restrito a participação mecânica em alguns rituais de sua devoção religiosa. O ser humano comum preferiu a segurança do coletivo a desenvolver seu potencial individual.
E assim caminha a humanidade, como já disse o cantor Lulu Santos baseado naquele antigo filme noir.
No entanto, no coração de alguns, poucos, restam as labaredas deste “fogo interior”.
Estes tímidos gritos de rebeldia nascem, por exemplo, nos blogs informativos que fazem um contraponto ao que a grande imprensa noticia. Ecoam suas vozes, nos blogs culturais que divulgam idéias e talentos, ainda, sem a luminosidade de um autor consagrado.
Estas manifestações pouco perceptíveis estão, também, nos movimentos religiosos que pregam a priorização dos valores humanos em detrimento às estruturas formais asfixiantes.
Apesar do panorama um tanto cinzento, nesta virada de século 21, esperanças rarefeitas, por certo, restam.
Vamos assistir, então, aos passos algo claudicantes desta humanidade. Que apesar de todas estas contradições pode, ainda, encontrar seu rumo. E que ele seja o do crescimento pessoal & espiritual e da compreensão mútua.
Quem sabe, veremos...
Ricardo Mainieri
quarta-feira, setembro 09, 2009
Poesia: partilha simbólica

Ao se fazer uma busca no GOOGLE, a palavra partilha é encontrada, principalmente, como expressão do meio jurídico. No caso, o formal de partilha feito por ocasião do inventário.
No entanto, pretendo falar de partilha, sob outros aspectos. Quero dizer de coisas que se dividem, não a nível monetário ou de bens, mas de poesia, como uma espécie de comunhão.
Pois, a poesia é um bem de baixo valor agregado. Simbólico. Não pode ser considerada, na linguagem dos economistas, uma commoditie confiável.
A poesia é economicamente estéril, não gera lucros. Por isso, não movimenta mercados futuros, nem salda dívidas passadas...
É apenas uma coleção de imagens & palavras que se desfazem no ar...(perdoe-me, Marshall Berman, pela livre-associação com o título de seu livro)
Entretanto, repousa profunda dentro de nós. Basta entrar em contato com um poema bem escrito. Fruir sua seiva de sons & imagens. Neste momento, temos a sensação, inequívoca, de provar um néctar de sutilezas.
Como um segredo cálido, a poesia se desnuda aos olhos de cada leitor.
Uma sucessão de véus e sons que vão se mostrando, a cada nova leitura. Com sensualidade, envolvimento.
Fiquem, então, com a poesia:
Cegueira
Poesia
deixou rastros.
Não percebi.
Mostrou-se nua.
Meus olhos
eram só sintonia
para o mundo
concreto e factível.
Imerso
nas correntes oceânicas
dos compromissos
a desprezei.
Ela tornou a voltar.
Arrependido
abracei-a em estrofes.
Ela ficou comigo.
Ricardo Mainieri