Chet Baker, um homenino

Chet Baker era um homenino, como diria Caetano.
Habitava o mundo da sensibilidade e da doçura quando tocava seu trumpete.
Encantava, quando cantava seus standards, dando seu toque personalíssimo.
Mas, o homem assumia o comando e saía à busca de drogas pesadas, numa viagem sem tréguas.
Este mundo acabou-se num hotel de Amsterdã. Em sua queda, o solo, frio, não o recebeu com aplausos...
Ricardo Mainieri
valium

acordo cedo:
neuras indomadas
medos mal dormidos
bocejo um verso avesso
cheio de dedos
não-me-toques
tiques
mal espreguiço
vendo a alma ao vício
:
acendo um café preto
requento o cigarro
[lembro que o poema
que ora escrevo
ainda nem foi ao banheiro]
acordo cedo
com o pé esquerdo
pisando nos meus calos
valéria tarelho
http://valeriatarelho.blogspot.com
ilustração : http://www.valeumvalium.blogger.com.br/
Nas salas do Poder

Despem-se
as persianas da manhã
o dia se anuncia hostil
sob a mira dos fuzis
da crítica humana.
Não existe guerra
rasgam-se esperanças
em torturas sutis
ardis civilizados.
Sentado/calado
à mesa de trabalho
observo homens brutalizados
que se saciam
com a carne podre do poder.
Ricardo Mainieri
Vôo cego

A vida transita
na avenida.
Nela movem-se sonhos
desejos
disfarces.
Felicidade é ilusão?
Depende da ótica
no jogo cego
da tentativa-erro
onde perdemos
a preferencial.
Será que existe um caminho
ou somos atropelados
pelo destino
na próxima estação?
Ricardo Mainieri
inspirado em poema de Roberta Leal(Sweet Ragi)
All jazz

Ouço jazz
em contraponto
a vida lá fora
e harmonizo
os compassos do coração
Ricardo Mainieri

A serra
descerra
raro panorama.
Azul profundo
entremeado de verdura
vivas cores
& aromas.
Respiro mansidão & paz
paraíso
& vertigem...
Ricardo Mainieri
Alphavella

Favelas
velam o sono
da burguesia.
Promessas de caminhos
assépticos & salubres
no discurso dos políticos.
Distantes disso
pobres padecem no céu
& esgoto abertos.
Ricardo Mainieri
inspirado no poema Favela de uma amiga