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sexta-feira, dezembro 18, 2009

Papai Noel e os executivos de marketing





A Terra fez, como sempre, seu movimento de translação em relação ao Sol. Mais um ano finaliza e, novamente, se aproxima o período natalino.

O calor aumenta no Hemisfério Sul, o pagamento do 13.º salário está se processando e as férias esperam pelos cansados trabalhadores. Uma certa euforia impregna a atmosfera, as pessoas, assim como as roupas, parecem mais leves.

No entanto, a nível explícito ou subliminar, a propaganda vai inoculando , suavemente, o doce lenitivo do consumo. Seja uma necessidade real ou uma vontade sublimada, o desejo de se apropriar de bens e serviços sofre grande influxo, neste período.

No calendário promocional, as festas natalinas são líderes no ranking de compras. As pessoas vão, durante o ano, represando suas demandas e, quando o ano se põe, saem a consumir o que o orçamento permite e o que o limite dos cartões de crédito libera...

Freud, em uma de suas obras, cunhou o termo “libido objetal”. Ele se referia às pessoas que, em diversas situações, desviam seu interesse dos prazeres concretos sublimando-os por objetos substitutivos. O amor, o impulso da conquista, acabam sendo trocados por um carro zero km ou um televisor de plasma. Isso, quando os indivíduos têm crédito e posses ...


A solidão do homem moderno, também, concorre para o consumo. Os executivos de marketing dos shopping-centers sabem disso. Percebem que as pessoas vão às lojas ao final da tarde e compram roupas, acessórios, bebidas finas, para se recompensarem do stress do trabalho, , das carências emocionais, da falta de companhia.

Na Inglaterra, uma pesquisa demonstrou que os indivíduos solitários, diante de um aparelho de televisão, em vários momentos, beijavam os atores e atrizes na tela do monitor. Naturalmente, as redes de comunicação começaram a aumentar o número de closes em programas e comerciais. As engrenagens do consumo não podem parar de girar...

Deste modo, vamos nos aproximando do primeiro Natal pós-crise mundial. Os países, pouco a pouco, vão recuperando seus ativos. Alguns esparsos empregos temporários são criados e a economia e seus movimentos parecem entrar nos eixos.


Não saberia responder se este estado de coisas, estes ventos favoráveis irão perdurar. Sou apenas, um cronista. Porém, de qualquer forma, priorizar os melhores preços, poupar o que não for gasto e pensar na vida em médio prazo é uma receita válida, digna de qualquer economista de botequim...

Por isso, prefiro deixar com vocês, um poema que tenta refletir sobre tudo isso. Ele não rende juros nem correção monetária, mas é uma poupança emocional para outros momentos mais ásperos. Fiquem com ele:


Consumo, logo existo


Meus olhos passeiam
pelas prateleiras
do supermercado.

Nenhuma paisagem
acessível ou nova.

Desfilam produtos
meros substitutos
de uma carência que só cresce.

Confortavelmente
em meio a efeitos & luzes.
o consumo é protagonista.

O acidente de trabalho
o salário aviltado
o desgaste da natureza
ficaram fora de foco.

Na mente
como um mantra
a música natalina reprisa
esperança amor & paz...


Ricardo Mainieri

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