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sexta-feira, julho 24, 2009

Autenticidade. Existe um caminho?







Em novembro de 2008, tive a felicidade de ver uma indagação enviada à revista Vida Simples, da Editora Abril, virar um interessante artigo do educador Eugênio Mussak. Ele lhe deu o título de "A marca de cada um".

Despretensiosamente, pretendia questionar sobre a dificuldade do viver estereotipado. Buscava a fórmula de como ser autêntico num mundo diário de máscaras e conveniências.

O articulista, então, foi desencavar a origem da palavra estereótipo, lá em suas raízes gregas, e, a seguir, com a maestria que lhe é peculiar, traçou brilhantes linhas sobre o tema.

Volto a este enigma de todos os tempos, agora por minha própria conta e risco.

Pois, num universo onde se espera que as pessoas tenham procedimentos usuais, onde câmeras vigiam dia e noite prédios, salas de trabalho, lojas e supermercados, o mais “normal” é que nos deixemos levar pela neurose coletiva e nos comportemos como bons meninos.

É certo que uma razoável maioria se deixa levar pelas regras e imposições sociais, pela moda e pela mídia. Exteriormente, se portam como cidadões aceitáveis. Com isso, ganham um respeitável nada consta no atestado de bons antecedentes e na folha corrida existencial....

No entanto, lá no mais profundo de cada pessoa, uma centelha pessoal resiste e quer mostrar que pode iluminar este universo. Talvez mais do que os “quinze minutos de fama”, de que nos falava o pop-artista Andy Warhol.

Antes dele, também, o psicanalista Carl Gustav Jung , em suas obras, nos indicava o percurso do árduo caminho da individuação. Trilha para dentro de si mesmo, onde devíamos reconciliar nossas verdades mais autênticas e seguí-las, como um viajante de um hipotético Caminho de Santiago.

Mais recentemente, o “mago” Paulo Coelho trouxe a idéia de “seguir sua lenda pessoal” e virou celebridade.

Minha trilha pessoal e de alguns companheiros reflete este caminho.
Herdeiros dos “Anos de Chumbo”, fabricamos nossa resistência na leitura de livros, nas rodas intelectuais universitárias, no escurinho dos cinemas de bairro, na abertura ao espiritualismo e em tantas tentativas de autenticidade.

Por isso, atualmente, vejo com certa tristeza as gerações mais jovens. Parecem terem perdido aquele élan juvenil de contestação, de criatividade, de fantasia.

Estão imersos em suas telas virtuais, perdidos num mundo de clichês mídiáticos,.


Muitos, infelizmente, estão navegando em paraísos artificiais fornecidos pelo crack, loló e outros entorpecentes Têm seus corações entregues, as almas dilaceradas.

Confesso, o professor Mussak foi mais otimista do que eu. Tem mais esperança. No fundo, acredita que Rosseau estava certo ao falar que o homem foi um bom selvagem, a sociedade é que o degenerou.

Então, para meu consolo, vou colocar no cd player um velho blues, me transportar no tempo e, momentaneamente, concordar com o articulista.

Depois, passado o efeito estético-musical, vou olhar para a rua e encarar a realidade invernal...


Ricardo Mainieri

2 Comentários:

  • Amigo Ricardo,
    Quão pertinentes as tuas observações; cá dentro rebatem como sulcos de areia, ao constatar, não sem tristeza, o quanto são reais. Ainda bem que resta o vilarejo interior, de onde saltam ondas de sal, quiçá de céu, para rebater um pouco tanto frio.
    Beijos.

    PS
    Passe no "clube do conto" e
    no "m-eus outros", a saber de viagens e palavras.

    Por Blogger Tere Tavares, Às 1:34 PM  

  • Existem tantos caminhos quanto são os caminhantes.
    Beijo grande, amigo!

    Por Blogger Ana Guimarães, Às 9:48 PM  

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