Amores & tempestades
A paisagem externa era ameaçadora. Nuvens em tons de chumbo e quase nenhum naco de azul no céu. Ao longe, ouviam-se relâmpagos e trovões, como tambores xamânicos a percutir intensos.
Ciro lembrou-se da infância. Nestes momentos sua mãe rezava, fervorosamente, para Santa Bárbara. A cada trovoada, uma súplica. Ficara com certo medo, desde então.
Ele havia prometido visitá-la naquela tarde. Conhecera-a numa linha cruzada, quando procurava um encanador para consertar as instalações de seu banheiro. Ousado, insistiu na conversa e foi minando, pouco a pouco, as resistências da moça. Finalmente, conseguiu seu telefone e endereço.
Ela chamava-se Roberta. Estava sozinha em casa. Tudo conspirava, favoravelmente, menos a chuva. Roberta imaginava que Ciro não pudesse vir. Visualizava mais uma enfadonha noite de sábado em frente à tevê.
Ciro olhou, de novo, pela janela. Grossas gotas caiam e o vento , em rajadas rápidas, obrigava às arvores a uma grotesca coreografia. Ligou o rádio para se inteirar das notícias. Um locutor interrompeu a programação musical e informou a previsão do tempo :
- Tempo instável com chuvas intensas.Ventos de Norte a Sul em rajadas fortes. Trovoadas esparsas e temperatura em declínio.
- Porra!, exclamou Ciro. Logo, hoje, que consegui um programa interessante...
No entanto, resolveu dobrar sua resistência. Pegou o telefone e ligou para um tele-taxi. Logo um Corsa vermelho estacionou a porta de casa.
- Olá, é o senhor Ciro?
- Eu mesmo. Por favor, desejo ir até a Rua da República, 500.
- Vamos lá.
A chuva, agora, era torrencial. O pára-brisa do veículo funcionava, sem interrupção. Um ar gelado entrava pela fresta da janela.Quando se deu conta, já tinham chegado ao endereço.
- Quinze pratas pagam a viagem.
- Legal, deixa teu telefone. Posso precisar na volta.
- Aqui está.
- Obrigado, até mais.
Pressionou a campainha. Uma voz de contralto atendeu e pediu para ele aguardar. Era Roberta, que retocava, nervosamente, a maquiagem e se perfumava.
- Oi, eu sou o Ciro. Prazer em te ver
- Olá, Ciro, sou a Roberta. Acho que a gente pode conversar.
- Vamos para a sala.
Passos estudados, gestos idem, Ciro adentrou na sala. Sabia que devia ser comedido. Olhou em torno e notou o conforto e o bom-gosto dos proprietários.
- Lugar bacana, aqui
- Eu trabalho, aqui. Sou empregada doméstica.
Ciro procurou ser discreto e disfarçar sua surpresa. Seguiu adiante.
- Você trabalha há tempos aqui?
- Quase dez anos.
Roberta foi até a cozinha. Trouxe cerveja gelada e um prato de salgadinhos que ela mesma havia preparado. Serviram-se.
O álcool começou a fazer efeito. Ciro pegou na mão de Roberta, ela não se opôs. Arriscou um beijo no rosto e, ousado, acertou os lábios dela.
Aí, Ciro tentou beijar-lhe o pescoço. Roberta sussurrava. Colocou a mão por baixo da blusa e tocou os seios. Ela suspirou. Logo, meias, soutien e calcinha jaziam no sofá da sala. Ele mordeu, de leve, os seios e acariciou, demoradamente, seu corpo. Colocou o preservativo.
Fizeram amor no sofá, quase sem palavras. Outros sons se ouviam, paladares intensos, odores e secreções. Pareciam que se conheciam há muitos anos, tal a cumplicidade.
Depois, abraçados, resolveram conferir como estava a chuva. No céu, ao revés de nuvens escuras, um imenso arco-íris se delineava. Como uma promessa , uma magia. Beijaram-se , longamente, e de novo o amor se impôs...
Ricardo Mainieri
1 Comentários:
Os homens (seres)colocando os desejos em dia, parece história real. Na sala da patrões, seria pra evitar que bagunçassem os seus salões nobres pessoais?!...rs...
Por Anônimo, Às 1:04 PM
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