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quinta-feira, dezembro 29, 2005

Crônica de Ano Novo






Porto Alegre encolheu depois das Festas. Reduzidos automóveis tomam às ruas. Hoje, calmos, sem a neurótica mania de levar tudo de roldão. Pessoas em passos de passeio. Alguns cachorros.

A temperatura está amena, em pleno verão. Pode-se ver o desfile de amarelos e lilases adornando guapuruvus e ipês. Sardas vermelhas, nos flamboyants.

O ano se inicia. Com ele, talvez a esperança de um mundo melhor. Mesmo em meio a terremotos, algumas guerras, uma que outra tragédia cotidiana.

Pois, dentro de nós, reside a maior área de transformação. Não, em território físico. Falo , apenas, daquelas mudanças em nossos pensamentos, atitudes, condicionamentos. Onde podemos operar com certa liberdade. Ainda...

Embora o mundo externo mostre um rosto cinzento, vou vestir branco e me tornar leve.Parodiando o lema dos Alcóolicos Anônimos : neste dia,por estas 24 horas, tentarei...ser feliz.


Ricardo Mainieri


Esta obra foi publicada originalmente na INTERNET, no site http://www.entrementes.com.br/, na revista literária Entrementes, edição 52, janeiro/2004

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Carta ao Papai Noel







Sempre fui menino comportado, tímido, cedia meu lugar aos outros, esperava minha vez.Inevitavelmente, um dia, tornei-me homem.

Ainda com alma de garoto, trago a poesia dentro de mim, verde no olhar e imensa curiosidade sobre o mundo.

Olho ao redor e meus contemporâneos não são mais meninos.Esqueceram em alguma árvore, no último campinho de futebol, na festinha adolescente, sua porção-criança.

Andam taciturnos, angustiados, apressados. Dirigem seus carros, sua vida, sua empresa, como se o mundo fosse amanhã implodir em mil pedaços. Conquistam postos no mercado de trabalho, pequenas honrarias, embebedam-se de uísque, cigarro e tédio.Mas, são infelizes...

Olho para eles com minha alma de poeta.Onde, ainda, encontro espaço para brincar com imagens e palavras. Por isso, chamam-me louco, sem responsabilidade, no mínimo esquisito.

Com o correr dos anos, aprendi que esta é minha essência. É pelo que vou lutar até o fim de meus dias neste Planeta.Como seiva vital me alimento, depuro angústias e verto poesia.

Papai Noel, então, te peço. Não afaste esta linda moça chamada Poesia de minha vida. Que ela continue a iluminar meus momentos no breu, fecundar corações desesperançados, ser a voz que clama pela Justiça e Fraternidade.

E que possas espargir esta Beleza, neste Natal, e nos dias vindouros.

Ricardo Mainieri

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Adiamento






Deixo
espessas camadas
do sono
cobrirem-me.

O amanhã
precisa vencer
o inverno e a noite.

Bebo
e celebro a alegria
do momento.

Provisoriamente.

Ricardo Mainieri


*** poema-homenagem ao grande poeta português Fernando Pessoa, que, inclusive tem um poema com este nome

terça-feira, dezembro 06, 2005

Líquido desejo







Arrebento em marés
úmidas, ansiosas
às vésperas de teu corpo.

Ricardo Mainieri

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Profund(i)dade















A Lei
mais permanente
é a da Impermanência.

Busquei no Budismo
meu Oriente
e o norte para minhas ações.

De que valem
vaidade & orgulho
consumidos pelo tempo?

Os bens
a plástica do rosto & corpo
o que resta?

Pergunto
ao I Ching
e recebo respostas sábias.

Sereno medito
em meio ao torvelinho
desta vida.

Uma paz imensa me invade.
zen fim.

Ricardo Mainieri